06/08/2010

Resiliencia: como colocar o stress a seu favor.

Por: Renata Reginato

   Resiliencia é a chave para uma pessoa gerenciar pressões e stress; ela enfrenta as adversidades com lucidez, de uma forma que a torna permeável ao processo de mudança. A palavra vem do latim “resílio” que significa voltar ao estado natural, resiliencia é um termo tomado de empréstimo da Física, se refere à propriedade que alguns materiais têm de se deformar quando submetidos a pressões e em seguida voltar ao estado anterior, sem alterações.
   O conceito de resiliencia para as Ciências Humanas é “a capacidade de uma pessoa em possuir uma conduta sã num ambiente insano, ou seja, capacidade do individuo sobrepor-se e construir-se positivamente frente às adversidades”. Pessoas resilientes conseguem superar um trauma sem sofrer as consequências negativas do stress, como distúrbios psico-somáticos, ou seja, enfermidades físicas e emocionais. Toda esta capacidade de superação ocorre originada de uma grande energia interior.
   A peculiaridade da resiliencia está no fato da pessoa poder escolher como quer perceber e responder às situações adversas. A resiliencia permite uma mudança significativa nas atitudes e na qualidade de vida da pessoa diante do caos do dia-a-dia, das cobranças, prazos, pressões, muita tensão e stress acumulado. Isso não significa ausência de dores emocionais, a diferença consiste na forma de vivenciá-las. Pessoas resilientes apresentam grande capacidade de adaptação.
   Há duas palavras em nossa língua que são similares na forma de pronunciar, mas opostas no significado: adaptação e acomodação. Adaptação é o ajuste de um organismo ao meio ambiente. Já a acomodação significa estabilidade, equilíbrio, repouso. Quando aplicados ao homem, é possível perceber que o acomodado está estável, não muda. Enquanto o adaptado muda o tempo todo, para acompanhar as mudanças que acontecem ao seu redor. O resiliente se adapta nunca se acomoda.
   De acordo com a Internacional Stress Management Association, entidade voltada para a prevenção e o tratamento do stress, as pessoas resilientes sofrem o impacto da mudança e as dores emocionais que estas mudanças ocasionam, mas reúnem forças e se reposicionam.
   A adaptabilidade que pessoas resilientes demonstram e sua capacidade de recuperação após o impacto inicial da mudança, permitem que elas evitem as disfunções do choque no futuro. Ao contrario de se tornarem vitimas de mudanças, pessoas que demonstram características resilientes geralmente prosperam durante a quebra de suas expectativas e a desordem de uma adversidade.
   As pessoas resilientes não enfrentam menos desafios que outras em época de crise, mas elas tipicamente recuperam seu equilíbrio mais rapidamente, mantém um nível mais alto de qualidade e produtividade nas dimensões pessoal e profissional, preservam a saúde física e emocional e alcançam mais o objetivos. Estas pessoas também são suscetíveis ao stress da mudança, não é que elas impeçam os efeitos da mudança, mas é que estes efeitos são, no final, mais frutíferos do que danosos.
   As pessoas, de um modo geral, não podem saber se vão ou não ficar com raiva ou tristes, quando algo inesperado acontecer em suas vidas, mas podem sim, definir quanto tempo vão querer ficar alimentando esse sentimento, assim como fazer para canalizar essa emoção com uma ação construtiva.
  O resiliente opta pela criatividade e inteligência diante de uma situação adversa, transformando deliberadamente, desânimo em persistência, descrédito em esperança, obstáculo em oportunidade, tristeza em alegria. Esta postura solucionadora diante da vida é prova de que a pessoa não precisa deixar as emoções de lado para tornar-se resiliente, precisa apenas desenvolver novas aprendizagens no sentido de superar desafios com o máximo de competência, sabedoria, excelência e saúde possíveis.
   A composição das características de uma pessoa resiliente é identificada pela formação genética, sócio-cultural e por traços de personalidade. Esta combinação de características pode ser descritas da seguinte forma:
• São autoconfiantes: acreditam em si e naquilo de que são capazes de realizar por si mesmas.
• Gostam e aceitam mudanças: encaram as situações de estresse e adversidade como um desafio a ser superado.
• Têm baixa ansiedade e alta extroversão: são abertas às novas experiências e a formas inovadoras de fazer as coisas.
• Têm autoconceito e auto-estima positivos: conseguem administrar seus sentimentos e suas emoções em ambientes imprevisíveis e emergenciais.
• São emocionalmente inteligentes: conhecem suas emoções, sabem administra-las, sabem automotivar-se, reconhecem emoções em outras pessoas e sabem manejar relacionamentos.
• São altamente criativas: procuram constantemente por inovações e se adaptam a elas.
• Dispõem de uma eficaz capacidade de resposta: mantêm altos níveis de clareza, concentração, calma e orientação frente a uma situação adversa.
  A agilidade e o entusiasmo que pessoas resilientes demonstram ao enfrentarem adversidades resultam de uma elasticidade que lhes permite permanecer relativamente calmas em ambientes imprevisíveis. Elas podem se recuperar repetidamente ao serem submetidas aos estresses da mudança.Na realidade , quando pessoas resilientes enfrentam a ambiguidade, ansiedade,e a perda de controle que acompanham uma mudança,elas tendem a se fortificar com as experiências em vez de se sentirem esgotadas.
   A mudança provoca uma crise quando quebra significativamente as expectativas sobre questões e eventos importantes. Os chineses expressam o conceito de crise com dois símbolos separados: ela pode representar o perigo em potencial ou pode representar oportunidades ocultas.Combinando estes dois símbolos,os chineses perecem estar caracterizando a mudança como um paradoxo .
   Toda vivência humana pode ser expressa em termos de paradoxo: o plugue elétrico que entra na tomada tem dois pinos, cada um acessando uma carga: a positiva e a negativa. Dessa oposição vem o proveito da corrente elétrica.O dia apenas é compreensível em contraste com a noite.O masculino apenas é relevante em contraste com o feminino. A atividade apenas tem significado em relação ao repouso; o paladar é uma questão de contrastes .O para cima apenas é possível na presença do para baixo.O que seria do norte sem o sul? Onde a alegria não está limitada pela sobriedade?
   Por alguma razão incompreensível as pessoas rejeitam frequentemente essa natureza paradoxal da realidade e num momento de tolice, acham que podem funcionar fora dela. No mesmo instante em que o fazem,traduzem o paradoxo em oposição.Quando o lazer é arrancado do trabalho,ambos ficam danificados.O sofrimento pessoal começa quando as pessoas se martirizam entre estes dois opostos.Ao tentar abraçar um sem pagar tributo pelo outro,degradam o paradoxo transformando-o em contradição.Entretanto,os dois pares de opostos devem ser igualmente honrados.Suportar a própria perplexidade é o primeiro passo para a cura.Então a dor da contradição se transforma no mistério do paradoxo. Ele força as pessoas a irem além de si mesmas e destrói adaptações ingênuas e inadequadas. A maior parte do tempo as pessoas sustentam dois pontos de vista antagônicos e evitam o confronto.
   Esta é a realidade de muitas vidas modernas. Num dia comum tem incontáveis exemplos dessa opinião dividida: “ preciso ir ao trabalho, mas não tenho vontade”; “ não gosto do meu vizinho,mas preciso ser educado com ele”; “ eu deveria perder peso mas gosto muito de certos alimentos”; “meu orçamento está apertado mas…” Estas são as contradições com as quais vivem constantemente.Essas ilusões,porém, devem ser desfeitas,por mais doloroso que isso possa ser.
   Não é possível simplesmente apagar um lado da balança, mas podem mudar a maneira de olhar para o problema. Quando aceitam estes elementos opostos e suportam a colisão deles em plena consciência, abraçam o paradoxo. A capacidade para acolher o paradoxo é a medida da resiliencia e o sinal mais certo de inteligência emocional ampliada.
   Na medida em que as pessoas encontram o seu maior medo é aí que ela vai se desenvolver em seguida. O ego é moldado como o metal, entre o martelo e a bigorna. Isso é para os corajosos e não é fácil encontrar uma natureza moral ou ética forte o bastante para o processo. O heroísmo poderia ser redefinido em nossa época como a capacidade de aguentar o paradoxo e a pressão que ele provoca. Dar passagem ao paradoxo dentro de si mesmo, consentir a ele é consentir à aceitação que é maior que o ego. A vivencia de conforto fica exatamente neste ponto de insolubilidade no qual acham que não podem mais prosseguir. Isso é um convite para aquilo que é maior do que o próprio eu. A resiliencia ampliada depende da capacidade de equilibrar a necessidade do ego de fazer com a capacidade inata de ser. Esta conciliação pode proporcionar a felicidade e a pequena medida da paz que todos buscam.


Referencias Bibliográficas:
Resiliencia – A construção de uma Nova Pedagogia para uma escola Pública de Qualidade – Col. Na Sala de Aula 13, Celso Antunes, Editora Vozes.
Resiliencia e Educação, José Tavares, Editora Cortez.
Resiliencia a Arte de ser Flexível I, Frederic Flach, Editora Cortez.
Resiliencia, A Presença da Pedagogia, Antonio Carlos Gomes da Costa, Editora: Global.

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