22/05/2011

Longe da vista dos pais

Quando se tem filhos, os cuidados dobram com a chegada da puberdade. O período de mudanças hormonais costuma coincidir com a fase de imersão na web. Orkut, Facebook, Twitter, Youtube e outras ferramentas tornaram-se, na última década, o passatempo favorito da garotada, ainda muito incauta em se tratando de perigos virtuais.
A fim de investigar esse comportamento, a empresa McAfee, especializada em segurança da informação, levantou em 2010 com que frequência meninos e meninas acessavam a internet. Com base numa amostragem de 400 jovens, entre 13 e 17 anos, a pesquisa A vida secreta dos adolescentes: o comportamento dos jovens na web mostrou que navegar nas redes sociais é hoje a principal atividade nessa faixa etária, com 83% de adeptos.
A relação com os pais também foi abordada pelos pesquisadores. Dos adolescentes, 54% disseram ser questionados pelos responsáveis a respeito dos sites visitados, sendo que metade negociou, previamente, o que poderia ou não ser acessado. Apesar de a grande maioria, 88%, afirmar que os adultos acreditam que eles usam a internet corretamente, 39% não revelam as páginas que frequentam. Além disso, 32% deles têm como costume limpar o histórico do navegador e 39% minimizam o conteúdo toda vez que um adulto se aproxima. Ou seja, os pais ficam por fora do que os filhos estão publicando na rede.
Enquanto isso, os adolescentes divulgam nas redes sociais que, por exemplo, fumaram um cigarro, cabularam uma aula, tomaram um porre ou perderam a virgindade. Segredos escancarados para milhões de usuários da internet e desconhecidos pela família. “Como a maioria dos pais não domina essas ferramentas, eles desconhecem o que o filho está fazendo. Dessa forma, fica complicado para eles reconhecerem, a tempo, as consequências que os filhos podem sofrer com essas ações”, observa o psicólogo Fauzi Mansur.
Ao contrário de muitas mães que ainda acreditam que os filhos estão seguros em casa, mesmo com os olhos grudados no computador, a empresária Régia Rezende, 38 anos, faz questão de visitar as páginas frequentadas pela filha de 14 anos. Régia abriu uma conta em todas as redes sociais que a menina participa para tentar entender a mudança de comportamento da jovem, que antes só apresentava boas notas e conversava abertamente com a mãe. Qual não foi a surpresa de Régia ao ler posts e tweets indignados com a família e a escola?
“Fiquei surpresa com a raiva, com o linguajar da minha filha. Algo estava errado e isso me preocupou. Somos amigas e foi difícil perceber que, naquele espaço virtual, ela falava coisas sobre mim que eu nem sequer imaginava. Ela ainda contava tudo sobre o que sentia por um paquera, sem qualquer pudor”, lembra. A primeira providência a tomar foi chamar a filha e mostrar-lhe que estava ciente do que estava acontecendo. A adolescente explicou que não via nada demais no que fazia, uma vez que os amigos faziam o mesmo.
Trocar palavrões sobre os pais, compartilhar impressões sobre “ficantes”, criticar aulas da escola, combinar de sair para beber… Tudo estava ali. “Expliquei para minha filha que aquelas informações poderiam trazer implicações graves para ela”, recorda. Uma dessas exposições na internet, inclusive, rendeu à adolescente uma suspensão no colégio.
Hoje a garota se mostra mais conscienciosa e precavida. “Acho que o que aconteceu comigo foi um despertar. O mesmo deve ter acontecido com os outros pais de amigos da minha filha, que só souberam o que os filhos estavam escrevendo e fazendo porque eu fui atrás. Precisamos fazer parte desse universo para entender a linguagem dos nossos filhos e alertá-los sobre as consequências que determinadas informações podem acarretar no futuro”, enfatiza.


Revista do Correio Braziliense 22/05/2011

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09/05/2011

A Tirania do Corpo Perfeito

Ser bonito(a) e jovem é o exame admissional para a vida social.

Algumas mocinhas já consideram impossível ser felizes e, ao mesmo tempo, mostrar uma dobrinha na barriga quando sentam. Alguns mocinhos sacrificam boa parte da capacidade de aculturação que a natureza nos deu, em intermináveis e obsessivas horas “puxando ferro” nas academias de musculação. Isso sem contar com a comodidade que algumas pessoas gozam por poderem atribuir a um pequeno excesso de gordura na cintura, a um nariz ligeiramente mais profuso ou a um seio menos farto, toda a responsabilidade pelos fracassos em conquistar o sexo oposto. Parece estar havendo uma locação anatômica da felicidade, ora no seio, ora no nariz, ora na balança.

Pessoas têm como sonho de consumo a cirurgia plástica, a lipoaspiração ou, como se diz, a lipo-escultura (palavrinha mágica que mistura a perda da gordura com uma coisa artística). Algumas pessoas não se envergonham em dizer (não se envergonham por causa do apoio cultural) que se “pudessem fariam uma plástica geral, trocariam tudo, modificariam tudo”. Quer dizer, são pessoas infelizes com o próprio corpo.

Corpo Perfeito

O problema não seria grave se a preocupação com o corpo não fosse uma obsessão capaz de escravizar, capaz de entorpecer pessoas em busca de defeitos e dobrinhas aqui e ali, imaginando que se tirasse um pouquinho daqui, colocasse um tantinho a mais ali tudo ficaria melhor, mais perfeito, mais sarado.

Alguns podem contra argumentar que a pessoa não tem toda culpa por se submeter a esse escravagismo estético. A censura e a vigilância culturais seriam os grandes carrascos da prisão em estreitas calças jeans a que todos somos submetidos. Mas aí poderíamos parodiar Sartre: “– Se não podemos ser responsáveis por tudo aquilo que a cultura e a sociedade nos fez, seremos sim muito responsáveis pelo que faremos com tudo aquilo que a cultura e a sociedade nos fez”.

Alguns dos reflexos da submissão da felicidade humana ao corpo perfeito, malhado, esculpido, e com músculos bem definidos tem sido a anorexia e a bulimia, mais comum do lado feminino, e a vigorexia, mais comum em homens. Mas outros reflexos psíquicos não tão patológicos também fazem parte da obsessão pelo corpo, como a privação de contatos sociais, complexos de inferioridade, submissão aos “tratamentos milagrosos” (e caros), retraimento no contacto com o sexo oposto, consumo de medicamentos com severos efeitos colaterais, etc.

Ser jovem, aliás, ser eternamente jovem é a principal aspiração existencial de algumas pessoas, atualmente acrescida do ideal de beleza de ser magro(a), malhado(a) e esbelto(a). No Brasil, o conceito de beleza está associado a ser jovem, como se fosse impossível encontrar o belo fora da juventude. Talvez por isso nosso país esteja entre os primeiros no ranking da Cirurgia Plástica Rejuvenescedora, além de ser também um voraz consumidor de medicamentos para emagrecer.

É triste, mas às vezes as pessoas acham que o mais importante é o que aparentam, e não o que são de fato. E é comum dizer-se “– Nossa, você já tem 60 anos? Mas não parece...”. Não parece como? Baseado em que? Ora essa atitude invalida todas as experiências vividas para se chegar aos sessenta, que não se consegue aos trinta ou quarenta.

“Bela, jovem e magra, custe o que custar”. Ser bonita, fazer um book e tentar ser famosa através dos atributos físicos... Este é o conceito ideal que algumas meninas, adolescentes, jovens e mulheres perseguem incessantemente. Modelos, artistas de cinema e de televisão são os protótipos copiados por elas, colocando em segundo plano outros atributos que não os do corpo perfeito.

De fato, romper esses estereótipos culturais tem sido muito difícil. As pessoas são catalogadas culturalmente e classificadas em categorias sociais; jovens e belas, modernas, avançadas, de atitude, arrojadas, descoladas, enfim, nesse mundo pretensamente liberal e democrático, nessa sociedade que se diz respeitar a individualidade e autenticidade, quem não se enquadrar obrigatoriamente no modelinho da modernidade desejada estará, automaticamente, excluído do mundo das pessoas “de bem”. E um desses modelinhos implica na observância obsessiva dos limites do peso, tiranamente estabelecido por sabe-se-la-quem.

Mas há uma luz (tênue) no fim do túnel e aqueles que conseguem seguir o próprio caminho, emancipados dos estereótipos ou modelinhos culturais, parecem viver muito melhor. Foi o que mostrou uma pesquisa feita em 1995 na Universidade de Edinburgh, na Inglaterra, transformada no livro e comentada na revista Época. O autor, o psicólogo David Weeks, pesquisou, por uma década, pessoas que viviam fora dos padrões - tanto de comportamento quanto estéticos. Foram 789 americanos, 130 britânicos, 25 alemães e 25 neozelandeses. Ao fim, concluiu que pessoas fora dos padrões eram mais seguros, menos estressados, mais felizes e, por isso, tendiam a viver mais.

Fonte: GJ Ballone - Psiqweb

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