07/11/2010

Frigidez ou Desejo Sexual Hipoativo


Apesar de existir de fato, pode ser que o Transtorno do Desejo Hipoativo não exista nas proporções que se acredita
"Doutor, meu problema é a frigidez. O que o senhor me recomenda?" Essa pergunta, colocada de maneira tão fria e simples assim, tem sido um dos maiores desafios à ginecologia e à psiquiatria. Trata-se mais de uma confissão constrangida do que uma queixa médica. O problema vem geralmente acompanhado de sentimentos de frustração, vergonha, mágoa e, às vezes, culpa. A pessoa sente como se a parte psíquica que desperta o interesse pelo sexo estivesse morta ou desligada, não raro sente injustamente que a culpa é sua falta de determinação ou entusiasmo.
Por questão academica a Frigidez deve ser diferenciada da falta de orgasmo. Muitas mulheres não conseguem experimentar orgasmo mas continuam tendo prazer e interesse sexual. Os problemas que envolvem o desempenho sexual feminino podem ser agrupados sob o título de Disfunção Sexual Feminina onde se inclui o Transtorno de Desejo Sexual Hipoativo.
Na absoluta maioria dos casos, o desinteresse pelo sexo está ligado a fatores psicológicos, sendo um dos motivos mais reclamados a monotonia conjugal. Estudo populacional com 356 mulheres entre 20 e 70 anos identificou que a diminuição do desejo ocorre mais frequentemente nos relacionamentos mais longos. Por outro lado, entre as mulheres que relatam maior satisfação com seu parceiro a diminuição do desejo sexual foi bem menos provável (Hayes, 2008).
Outros fatores relacionados ao desinteresse sexual e sobejamente conhecidos por todos são a educação recebida, a falta de diálogo, práticas sexuais pouco gratificantes e outras. O próprio envelhecimento e as dificuldades do cotidiano também podem interferir na satisfação sexual. A maioria das pacientes não procura o especialista para saber se tem frigidez, elas já vem ao consultório sabendo que têm. A expectativa delas é saber se existe uma fórmula mágica para o problema.
Fazer um diagnóstico correto é muito importante. Boa parte das vezes o problema tem origem emocional e entre as questões emocionais o problema pode ser muito mais da outra pessoa do que da paciente. Geralmente essa outra pessoa não aceita sua parcela de culpa e vive "obrigando" a mulher a procurar um tratamento, preferentemente milagroso.
A falta ou diminuição do desejo sexual pode também estar ligada a problemas orgânicos, como por exemplo, alterações hormonais, debilidade física por conta de outras doenças ou até mesmo pelo uso incorreto de medicamentos. Entre os estudos que sugerem provável origem física da baixa libido feminina, um dos mais recentes foi realizado na Wayne State University pelo Dr. Michael Diamond, em Detroit, e apresentado à Sociedade Americana para Medicina Reprodutiva na conferência em Denver, sugerindo diferenças no processamento mental em mulheres que têm impulsos sexuais baixos.
Independente da causa, os transtornos da função sexual em ambos os sexos são estudados considerando-se algumas fases específicas da atividade sexual, geralmente separadas em 3:
- Desejo
- Excitação
- Orgasmo

O DSM-IV (Manual de Diagnóstico de Transtornos Mentais) classifica os distúrbios sexuais femininos de acordo com a função alterada, mais precisamente; desequilíbrios do desejo, da excitação e do orgasmo, havendo ainda transtornos classificados em separado, como é o caso da Aversão Sexual, Dispareunia e Vaginismo. É pouco provável que o Transtorno de Desejo Sexual Hipoativo e o Transtorno Orgástico Feminino também não estejam relacionados à excitação. De fato, as queixas relacionadas a tais transtornos dizem respeito a problemas da excitação sexual e não, propriamente, à função do aparelho sexual ou genital. Uma coisa é não ter prazer fazendo sexo, outra é não conseguir fazer sexo.
Nossa cultura tem forte apelo para um desempenho sexual obrigatoriamente fogoso e, dessa forma, qualquer diminuição na vontade de fazer sexo é considerada impotência ou frigidez, quase uma invalidez sexual.
Há ainda questões orgânicas que não podem ser confundidas com Transtorno Sexual Hipoativo. É o caso, por exemplo, do vaginismo e da dispareunia, que causam dor à penetração, portanto, comprometendo irreparavelmente a excitação sexual, além de poder levar ao medo de sexo ou à fuga total das atividades sexuais.

 Causas Orgânicas para o Desejo Sexual Hipoativo
 - Função hipotalâmica-hipofisária anormal. Isso resulta na diminuição do Fator de Liberação de LH (hormônio luteinizante), com consequente diminuição de seu nível sérico e simultâneo aumento de prolactina. Este último um hormônio muito relacionado ao desinteresse sexual.
- Anomalias testiculares capazes de produzir uma diminuição de testosterona.
- Diminuição de testosterona ovariana e/ou supra-renal na mulher.
- Enfermidades sistêmicas, tais como a insuficiência renal crônica com consequente diminuição de gonadotrofinas, a cirrose hepática com a consequente atrofia testicular e transformação de androgênios em estrogênios, a Síndrome de Cushing, com a consequente diminuição de testosterona plasmática, a insuficiência supra-renal, o hipotiroidismo e as enfermidades debilitantes.
- Medicamentos e drogas. Nessa categoria dos agravantes da hipofunção sexual está o álcool, em primeiro lugar, os tranquilizantes, os anti-hipertensivos, tais como a metildopa (Aldomet), reserpina, clortiazidas, clonidina, espironolactona, beta bloqueadores como o propranolol; os anti-depressivos, principalmente os tricíclicos, os inibidores da MAO e o carbonato de lítio, também a cimetidina (Tagamet), sulpirida, metoclopramida (Plasil), metronidazol (Flagil), a maconha, as anfetaminas (anorexígenos usados em regimes alimentares), a cocaína e o craque.
 
O termo Disfunção Sexual Feminina engloba o Transtorno Orgástico Feminino, Transtorno de Excitação Sexual Feminina e o Transtorno de Desejo Sexual Hipoativo. Por questão de definição, as queixas sexuais femininas seriam consideradas "doenças" apenas quando provocassem algum sofrimento. 

De qualquer forma, em nome da boa adaptação conjugal é importante avaliar as questões relacionadas ao desempenho sexual. Pesquisa com 5.463 mulheres entre 18 e 49 anos mostrou que a presença de dificuldades sexuais se relaciona a maior probabilidade de desarmonia conjugal, comparando-se com mulheres sem esses problemas (Witting, 2008).
Há mais de 10 anos (Laumann, 1999), um terço das mulheres relatava falta de interesse sexual e quase um quarto delas reclamava não sentir orgasmo. Um pouco menos de 20% tinha dificuldades de lubrificação e mais de 20% achava o sexo desagradável. Inegavelmente trata-se de uma ampla prevalência de queixas sexuais femininas.
Entre as queixas sexuais femininas o que se observa é que a maioria delas, 33%, de fato diz respeito ao déficit de desejo sexual. Em segundo lugar a falta de orgasmo – anorgasmia – com 24% das queixosas, seguido pelas dificuldades de excitação e/ou lubrificação, com 20%, dor vaginal na relação – dispareunia – com 15% e o restante com outras queixas.
A prevalência dos transtornos sexuais femininos é extremamente elevada e, muito provavelmente, superior à prevalência das disfunções sexuais masculinas. No Brasil, a falta de desejo sexual mostrou ser a maior queixa sexual feminina. A prevalência do problema é de 23,4% para as mulheres mais jovens e chega a atingir 73,0% entre aquelas de idade mais avançada (Abdo, 2002). Esses números são maiores entre as mulheres brasileiras do que entre as européias e americanas, nas quais a falta de desejo sexual variou de 11% a 53% (Hayes, 2007).


Fonte: Psiqweb G J Ballone 

https://www.facebook.com/sanidaybsb?ref=hl  

Um comentário:

  1. Alguém poderia me indicar uma leitura que me ajude a entender melhor a frigidez/falta de desejo sexual, e como tratar com hipnose, com exemplos e roteiro.

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