16/06/2011

Casamento de jovens pode virar duelo de identidades em formação

A construção de um relacionamento muitas vezes se dá exatamente no momento em que os dois jovens envolvidos lutam para afirmar sua individualidade. Isso causa frequentes e desgastantes conflitos, pois cada um defende suas preferências, fechando os olhos para as do outro. Para uma relação dar certo, é preciso superar essa fase e aprender a trilhar um caminho mais conciliador


Nos 10 ou 15 anos iniciais da vida adulta, a maioria dos jovens enfrenta uma situação complicada: conciliar a fase mais aguda da afirmação de sua identidade pessoal com a construção de uma união amorosa, experiências muitas vezes antagônicas. Para que uma relação vingue, então, é preciso que ambas as partes tenham consciência da delicadeza da situação e respeito pelas diferenças entre si.

O período adolescente do desenvolvimento psicológico de uma pessoa é superado à medida que ela faz escolhas: como e onde viver, que profissão abraçar, com quem formar um par. Tais definições costumam ser vividas com algum medo, em razão do comprometimento que trazem e das perdas que acompanham as escolhas, mas também são experimentadas com vigor, uma vez que se vai desenhando com precisão um modo de ser particular. É agradável saber se de posse de uma personalidade que se distingue de outras e que se pode apresentar ao mundo com alegria e segurança. Nessa fase de afirmação pessoal e social, o jovem adulto passa a conjugar um monte de verbos na primeira pessoa: eu gosto disso; eu não gosto daquilo; eu faço, aconteço, decido, escolho. E uma de suas escolhas será a parceria amorosa. Em geral, alguém da mesma faixa etária que vive igual experiência: gosta e não gosta, decide, escolhe. Uma vez juntos, os dois começam a afirmar suas diferenças um aos olhos do outro, em busca de espelhamento e confirmação, o que é natural. O problema
é que, ocupado com a afirmação da nitidez pessoal, cada um corre o risco de caprichar nos grifos e ênfase de suas perspectivas, valores e preferências, ficando desatento à necessidade que o outro tem de ser acolhido naquilo que o diferencia. Aí, pode começar o confronto entre dois holofotes. Um diz: "Eu quero ir à praia!" O outro: "É. Mas eu quero ir à montanha." Ambos se sentem orgulhosos por não terem dúvidas sobre o que querem, porém, quando contrariados, se queixam de não serem ouvidos nem considerados.

Se o jovem se sente seguro do que quer, não precisa fazer valer seu intento com tanta garra, nem instalar uma competição entre os distintos desejos. Agora, se está inseguro, ele tende a exigir do parceiro total e irrestrita adesão ao seu plano. Seu temor é o de que, uma vez refutada sua proposição, isso ponha em xeque seu valor como pessoa. E esse temor pode levá-lo a acirrar o posicionamento, eliminando a flexibilidade. Afirmar a própria diferença vira uma questão de honra! Se isso acontece com as duas partes do casal, os holofotes se tornam espadas e instala-se um verdadeiro duelo, que só desgasta a relação.

Numa perspectiva amorosa, os dois holofotes teriam, juntos, de iluminar um só caminho, de preferência satisfatório para ambos, capaz de conciliar os dois desejos, quem sabe inventando um terceiro, que seja comum. Ou, caso isso seja inviável, iluminariam ora o desejo de um, ora o do outro, num movimento sadio de reciprocidade. O amor requer a capacidade de renúncia ou adiamento do próprio desejo, em alguns momentos, em favor de um desejo maior, que é o de ver feliz a pessoa amada, ou de um caminho conciliador. É legítima a necessidade de ser confirmado, mas talvez se deva dispensar o parceiro de se ocupar em demasia com essa função - já que lembra o que os pais fazem pelos filhos - e buscar supri-la em outras relações, quem sabe com pessoas mais velhas, que são mais tranquilas. No âmbito do casal, o exercício dessa função só terá sucesso se ambos tiverem serenidade e forem capazes de oferecer reciprocidade.

Por: Alberto Lima

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02/06/2011

Busca por parceiros idealizados dificulta aprofundamento da união

Muitos homens e mulheres ainda sonham em relacionar-se com príncipes e princesas encantados. Na fase da paixão, pode até parecer que encontraram mesmo. Mas, como na vivência diária é bem diferente, logo se desiludem, deixam o parceiro e partem de novo em busca de alguém ideal. Eles reproduzem o erro indefinidamente e têm dificuldade para viver uma relação por inteiro.

A busca de um príncipe ou de uma princesa encantados ainda norteia muitos homens e mulheres em suas uniões afetivas. As características desejadas se alteraram, adequando-se ao mundo atual. Mas a base do comportamento continua a mesma: querem alguém perfeito, completo e estável, que traga felicidade e ainda supra todas as suas necessidades.

Esse anseio pelo par perfeito tem alguns aspectos positivos, como a consciência dos próprios desejos, das próprias necessidades, de forma que o autoconhecimento auxilie nas escolhas de parcerias. Mas a manutenção da busca por uma pessoa idealizada tem o inconveniente de dificultar a evolução do relacionamento.

Numa relação amorosa, normalmente não se enxerga o outro com clareza. Cada um dos parceiros o vê por intermédio do filtro dos próprios desejos e necessidades insatisfeitos. Os dois esperam que o outro os complete, ame e cuide deles. Ao perceberem que isso não vai ocorrer no grau desejado, é comum abandonarem o companheiro ou a companheira e saírem à procura de outro "amor". Continuam, porém, repetindo uma forma inadequada de agir. Deveriam é tomar consciência do próprio erro e estabelecer um novo contrato consigo mesmo e com o parceiro. Mas para isso é necessário que abandonem as fantasias e os desejos infantis sobre a relação homem/mulher e vejam o parceiro ou a parceira como realmente são.

Além do mais, o final com que todas essas pessoas sonham para sua história de amor é o antigo e já ultrapassado "ser feliz para sempre". Apesar de ninguém saber direito o que é felicidade, com certeza não é sinônimo de acomodação. Acomodar-se é o mesmo que fazer uma longa viagem no piloto automático ou deixar os controles do carro que se dirige na mão de outra pessoa. É trabalhoso realizar sonhos. Também é difícil conseguir o que se quer. Essa tarefa se torna menos complicada quando se foca nos sentimentos pessoais e nas mudanças internas que são necessárias.

Ficar preso na desilusão porque o outro não é o príncipe ou a princesa encantados fará com que a vida em comum se torne uma espécie de livro de "contas correntes", no qual serão registrados todos os itens que estão em débito e servirão de provas e armas para os embates que ocorrerão em cada nova frustração. Esse comportamento pode ainda criar um padrão de competição entre os parceiros, no qual cada um se concentra em provar que o outro é pior e o torna mais infeliz. O foco deixa de ser "como posso fazer o outro feliz", "como posso me aproximar do que o outro deseja", e se transforma em um jogo de dar menos do que o outro quer, fazer menos do que necessita. E os dois ficam presos nessa roda de infelicidade e frustração.

Enxergar a situação real significa se adaptar às próprias mudanças e às do outro. Rever as próprias escolhas e, assim, abrir as possibilidades de se recasarem. Poder casar muitas vezes com a pessoa com quem se está casado é confirmar que se tem consciência de que são pessoas que mudam com o tempo e os acontecimentos, e a cada etapa é necessário haver uma nova escolha do outro para ser seu parceiro. Escolha para um novo período. Isso implica um novo contrato, novas descobertas e também novos prazeres.

Para todas essas mudanças e propostas existe um ingrediente indispensável: a receptividade. Estar aberto para receber o outro como ele é, para enxergar o que deseja e o que o faz feliz. Isso muda a direção das preocupações. Se os dois o praticarem, a relação melhorará muito.

Por: Solange Maria Rosset

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